- A Primeira Parede de escudos - # 1 ESC



Lá estavam os Tratius. Avançando como bovinos em um estouro na direção de meu escudo enriquecido pela tensão do confronto. O som das respirações coladas aos meus ombros elevava a força do braço responsável por manter o escudo firme. A defesa era prioridade, minha lança repousava impaciente em minha mão direta, sabia que não estava ali para matar, mas para defender, o medo e o coração digladiavam na minha mente e no peito, mas nada disto iria importar quando os Tratius chegassem.

            E chegou a hora. Pularam como feras imitindo gritos ininteligíveis de sua língua brutal. Chocando-se com nossos escudos rijos e ali os detivemos. Fomos impelidos com a típica brutalidade dos Tratius, mas não mais que poucos passos curtos. Não conseguia ver nada a minha frente, mas vi muitos dos bárbaros saltando por cima da nossa parede, a sua primeira linha esta passado por cima da parede e caindo em nosso flanco, mas nossa linha era firme e esta manobra era esperada e a terceira linha se ocupou de ceifar todos os ousados com espadas curtas. Muitos perdiam o equilíbrio no salto e ainda no chão suas vidas eram retiradas de seus olhos, abatidos como animais raivosos e descontrolado.

Seguramos a pressão. Não mais de cinco passos haviam sido pisados antes de nos reafirmar, detivemos o ímpeto do inimigo e o primeiro passo a frente foi pesado mais avançamos. A segunda linha de escudos era como a trava da besta e mantinham-nos da primeira linha espremidos o máximo possível contra a horda feroz, a terceira linha tinha a responsabilidade do aríete, compelido com tenacidade às duas filas à frente. Eu não era muito mais que a ponta de um aríete humano, minha espada não precisava ser usada, não havia espaço para tal manobra e finalmente quando a linha Tratia relaxou o avanço começamos o nosso próprio.

A quarta linha carregava imensas hastes de madeira com pontas de metal, lanças com quatro ou cinco metros que possuíam apenas uma função, matar. As lanças são manejadas por cima dos nossos ombros e escudos e usadas para espetar com firmeza e violência. Escudos são transpassados e muitos crânios são feitos de alvo. Nossa parede se transmuta em uma couraça de espinhos e aço e as trombetas são tocadas, as ordens são cadenciadas e todos nos movemos como no treinamento.

Toda primeira linha é composta pelos mais jovens soldados e valentes, a segunda pelos mais experientes e pesados, a terceira por homens mais velhos e fortes. A quarta linha além de empunhar as lanças também estava ali para evitar qualquer tipo de medo ou hesitação por parte das duas primeiras linhas e sempre era composta por homens de alta confiança e comandantes diversos.

Golpes únicos e certeiros em seus corpos, fazendo meu escudo ser tingido do tributo dos deuses, sangue começava a ser derramado em quantidade e finalmente nos da primeira linha começamos a marcha para a vitória. Ao som da marcha da vitória toda parede avançou o paço coordenado, tinha plena convicção que o primeiro passo foi dado por mim sem demora, toda parede avançou em ordem. Em movimento uniforme nos da vanguarda resistíamos às lanças e pedras arremessadas, minha cabeça latejava como um sino com tantas pedras que atingiram meu capacete de aço e por inúmeras vezes necessitou ajustar o capacete que insistia dançar descontrolado sobre meu cabelo a cada impacto que nele atingia. A pior parte da marcha da vitória sempre é passar por cima dos inimigos caídos, o camarada a minha direita foi furado por baixo do escudo ao transpor um inimigo caído, por este motivo procurava sempre pisar com força na cabeça ou peito a fim de retirar toda e qualquer firmeza de um possível golpe por baixo, as lanças roçavam no topo do escudo e na ombreira e por muitas vezes era responsável por balançar o capacete por arrastar no aço da cabeça.

Pareceram horas, mas duraram minutos, a marcha nos vez avançar por não mais de cinqüenta ou sessenta passos, mas foi o suficiente. Estava exausto e com dores por todo o corpo, a cabeça não doía por definição, não sentia nem ouvia, o suor quase me cegava, mas estava vivo. A trombeta soava a hora de trocar a vanguarda e isso era alivio. Baixamos o escudo por um momento, talvez dois minutos e vimos à linha inimiga, ainda vasta e grunhindo selvagem, havíamos ceifado centenas ou talvez milhares deles e mesmo assim não pareciam reduzidos, a trombeta tocou novamente e recuamos para o repouso das linhas internas, e de lá para o acampamento que ficava bem recuado de onde começamos.

Foi uma excelente manha de combate, e agora estava feliz por sobreviver ao meu turno, esta foi o meu primeiro combate, minha primeira parede de escudos e estava satisfeito por não ter sido ao mesmo tempo minha estréia e minha despedida.


-Continua
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